ONE CAMERA TO RULE THEM ALL 2! — UMA CÂMERA PARA TODOS GOVERNAR 2! — SERÁ?

André Rodrigues — Filmmaker
11 min readAug 9, 2019

Em 2017 tivemos um dos maiores lançamentos da história da Blackmagic e até mesmo da história das câmeras. A BMPCC4K veio para mudar o mercado de câmeras, foi incrível. Na ocasião escrevi o artigo One camera to rule them all — Uma câmera para todos governar no qual me aprofundei em cada detalhe da câmera e expliquei todas as vantagens da mesma. Depois ainda faria um review de quase 2 horas de duração, uma live de mais de 2 horas de duração e tantas outros conteúdos ensinando e falando sobre essa câmera espetacular.

Mas o fato indiscutível que tornou a BMPCC4K realmente revolucionária não foram as specs. As specs eram revolucionárias para uma câmera pequena, mas basta lembrar que na mesma data de lançamento, foi lançada a Z Cam E2 que era ainda menor e tinha specs até melhores como o 4K 120fps (que hoje através de updates de firmware já grava em 4K 160fps). Só que a Z Cam foi lançada custando $1.999 dólares, o que na época já era um valor ótimo, já era algo muito barato e incrível pro que entregava. E aí, veio a BMPCC4K com specs incríveis e com um preço absurdamente agressivo e sensacional de apenas $1.295 dólares. De quebra ainda vinha com a licença do Davinci Resolve Studio que custa sozinha $299 dólares. Era um soco no estômago do mercado.

Ontem, dia 08 de agosto de 2019, apenas um ano e meio depois do lançamento oficial da BMPCC4K, a Blackmagic de surpresa, e diga-se de passagem tem que dar destaque e bater palmas mais uma vez pra eles pois mais uma vez não deixaram absolutamente nada a vazar em lugar nenhum e mais uma vez entregaram mais que o prometido, trouxe para o mercado a nova Blackmagic Pocket Cinema Camera 6K, ou carinhosamente BMPCC6K… ou ainda P6K.

A nova, e não tão bonita quanto antes, BMPCC6K

— ATUALIZAÇÃO: Os primeiros footages feitos com a câmera já estão disponíveis para visualização e download no site da Blackmagic aqui.

Num anúncio que todos esperavam ser um update de firmware para as câmeras atuais, incluindo a BMPCC4K, a Blackmagic do nada surgiu com a BMPCC6K. Uma câmera com 6K de resolução, sensor super35 e o principal destaque: bocal EF. Mas o que parece algo revolucionário esbarra em dois detalhes: o preço e a já existência da BMPCC4K.

A BMPCC6K vem para o mercado com o preço de $2.495 dólares! Estamos falando de praticamente o dobro do preço da BMPCC4K! Os “ganhos” não são tantos, em alguns casos da pra considerar até como “perdas” e, vale lembrar, estamos falando de um valor que significa escolher entre ter duas BMPCC4K ou uma BMPCC4K completa com todo o rig e lentes, contra uma câmera só sem rig, sem lentes nem nada.

Eu estou dizendo que a BMPCC6K é ruim? Que não as specs não são de respeito? Vou além: eu estou dizendo que a BMPCC6K não vale o que custa? Não, eu não estou dizendo isso! A BMPCC6K tem um custo muito bom para o que a câmera pode entregar. A questão é que o custo x benefício dela, num mundo onde existe a BMPCC4K custando $1.295 dólares ficou muito ruim, quase inviável.

Depois de muito refletir sobre o assunto, eu ainda consegui encontrar uma razão de ser para a BMPCC6K, onde eu imagino pela lógica que seja mais interessante para quem possui uma Ursa G2 ou uma UMP, ter a BMPCC6K como câmera B. Faz sentido, pelos valores e tal. Apesar da BMPCC4K já ser uma excelente câmera B dessas câmeras.

Mas o que eu quero dizer é que como consultor, eu jamais indicaria a BMPCC6K para alguém que já tem uma BMPCC4K ou que ainda não tem nenhuma e vai comprar a primeira. E vou dar as razões à seguir.

1 — O Preço

Como já falei antes, o preço não faz o menor sentido. Temos Z Cam E2 por 2 mil dólares que em breve vai entregar RAW, já entrega 4K 160fps e por aí vai. “Ah mas não é super35!”, já já eu vou falar disso mais a fundo, mas pra começar já vem aí a Z Cam E2-S6 que vai ser super35 e tá sendo lançada a 2500 dólares.

Mas pior que isso, a Z Cam semana passada, na contramão disso tudo que a BMD fez, lançou a Z Cam E2C, uma versão simplificada da E2, com 4K 30fps, FHD 60fps (e que com certeza em breve vai receber atualização de firmware elevando isso pra 4K 60fps e FHD 120fps, se não 240fps) por míseros $799 dólares, quase um terço do preço da sua atual E2.

O mais lógico e justo seria a BMD ter feito esses lançamentos no sentido inverso. Parece que eles não aprenderam nada com os erros do passado quando fizeram toda a cagada na história da BMCC e logo depois a BMPC. E até mesmo no caso da Ursa Mini e da Ursa Mini Pro. Mas pelo menos no caso das Ursas eles fizeram um programa de troca e desconto para quem já possuía a primeira.

Mas independente das pessoas que já possuem a BMPCC4K, ainda acho o preço fora da BMPCC6K curva. Como já falei anteriormente, o problema maior é que já existe a BMPCC4K.

2 — Sensor super35?

Sério Blackmagic? Tamanho do sensor altera a profundidade de campo? Ainda mais nesse nível aí?

Pra começar é ridícula a foto de divulgação no site da BMD. É algo tão estúpido e errado, não só do ponto de vista técnico, mas do ponto de vista de que essa imagem é um desfavor ao audiovisual. Ela ensina algo que não é verdade duplamente! Primeiro que imagem “cinematográfica” não tem a ver com “desfoque”, no máximo da pra dizer que um dos fatores que compoem uma imagem “cinematográfica” é a profundidade de campo, que não é a mesma coisa que “desfoque” visto que ela é formada por N fatores. E segundo que tecnicamente está errada essa ideia de que o tamanho do sensor é responsável por uma profundidade de campo maior, como já expliquei, ensinei e demonstrei com fatos e provas aqui neste artigo.

Pra resumir o que tá no artigo, o “desfoque” maior está ligado à diferença do tamanho do círculo de confusão e que por sua vez está ligado à diferença do tamanho dos fotosites, e não do tamanho do sensor. Como sempre digo, é óbvio que um sensor maior tem espaço pra comportar fotosites maiores, e logo, gerar um “desfoque” maior. Mas mais uma vez afirmo e reafirmo que não é o tamanho do sensor que faz a diferença.

Dito isso, podemos também lembrar que por mais que se insista nesse assunto e queira acreditar no que preferir, ainda assim existem duas coisas no mundo: equivalência e adaptadores. Ninguém precisava de sensor maior pois com um adaptador speedbooster você tem um crop até menor que o de um sensor super35 — A BMPCC4K possui 1.34x de crop com o adaptador enquanto o sensor da nova BMPCC6K na realidade não é super35 exatamente, visto que o sensor super35 possui um crop de 1.44x enquanto ela possui um crop de 1.55x, ou seja uma diferença bem grande na comparação da BMPCC4K para a BMPCC6K, quase 0.21x a mais. — além disso o speedbooster nos dá o ganho de 1 a 1 1/3 (dependendo do adaptador) de stops de luz, coisa que a diferença de tamanho de sensores não dá. a BMPCC4K não capta um stop de luz a menos que a BMPCC6K. Diga-se de passagem esse ganho de um stop de luz pode te ajudar a ir a “desfoques” ainda maiores…

Logo podemos ver que ganho com o tamanho de sensor não é algo relevante, no máximo é algo “legalzinho”. Pras fotos ficou legal ter mais MP e é interessante o fato de que o sensor maior acabou puxando o novo bocal (ou o contrário, não importa).

3 — Bocal EF:

Faça uma escolha! Será mesmo que preciso escolher?

O que nos traz ao assunto do novo bocal EF. O bocal é ótimo? É! Faz sentido? Nenhum. Como disse o amigo Joseph Moore num dos grupos gringos da BMPCC4K, precisamos lembrar que os adaptadores estão aí como já citei anteriormente, já tínhamos a possibilidade do “desfoque” e enquadramento do super35 e de utilizar as lentes EF! Agora o que não da pra fazer é utilizar as lentes MFT na nova BMPCC6K. E amigo, isso pode fazer uma senhora diferença em muitos momentos.

Primeiramente nos valores das lentes, que as MFT são muito mais baratas, então pra quem tá com orçamento apertado, é uma senhora vantagem. Basta eu citar o caso das Meike Cine que custam 350 dólares apenas. Depois o peso, lentes MFT podem ser muito úteis quando peso é um problema. E ainda tem a questão do fator de crop que às vezes é um ganho e não uma perda. Exemplo simples? A Olympus M.Zuiko Pro 12–100mm f/4 IS é uma lente com um range espetacular, com 23–190mm de equivalência, um dos IS mais incríveis do mercado de lentes, pequena e leve. Se torna perfeita para gravar com a câmera na mão em dezenas de situações, eventos e etc. E se torna ainda mais perfeita para shows e dvd’s onde precisamos de uma lente zoom. Quer mais? Se for algo gravado e/ou transmitido em FHD você ainda pode usar o window mode da câmera para chegar a incríveis 380mm, isso tudo extremamente estabilizado.

Você perderia tudo isso se estivesse usando uma BMPCC6K. “Ah mas eu posso comprar uma lente EF zoom foda também”. Pode! Só que ela vai custar 3, 4 ou até 5 vezes o preço e pesar muito mais, ter um tamanho gigante e por aí vai. Não estou dizendo que inviabiliza a câmera, estou dizendo que se você prestar atenção, você pode ter a mesma lente EF na BMPCC4K usando um adaptador, o que você não pode é ter a MFT na BMPCC6K. Inclusive a imagem à cima do site da BMD é de certa forma enganosa, pois da a entender que você precisa fazer uma escolha entre usar MFT com uma ou EF com a outra, o que não é verdade. A BMPCC4K te permite usar todas aquelas lentes da imagem, já a BMPCC6K…

4 — Resolução 6K:

E aí por fim você vai argumentar que “Ah, beleza mas você não tem o 6K na BMPCC4K, da pra cropar mano!”. Cara se tem uma coisa que você como profissional jamais deveria depender é de cropar na pós. Se você é de publicidade ou cinema então, você jamais deveria dizer isso no set: “cropa na pós”.

Mas considerando como uma real vantagem o crop na pós, a qualidade que essas câmeras entregam, ainda mais em RAW, te permitem ter um material gravado em 4K e finalizado em 4K, no qual você pode tranquilamente dar até 200% de zoom (se não mais) sem ter nenhuma perda realmente perceptível. Logo, o pouco a mais de crop que você ganharia com o 6K não é algo assim tão vantajoso, e na realidade, o 6K pode ser uma “desvantagem”.

Bom, eu nem vou entrar na discussão sobre exportar em 6K né? Não faz o menor sentido isso. Mas vou explicar onde eu vejo a “desvantagem”: Primeiro que muita gente já reclama e tem dificuldade em editar 4K pelo processamento dos arquivos, imagina o 6K! Recentemente trabalhei num projeto com a RED em 6K e o playback só era liso por conta da máquina forte e por conta de colocar o processamento da imagem em baixa qualidade. Legal, a gente tem essa opção (se for RAW, ou se não for, gerar proxy) de baixar a qualidade do processamento pra editar. Ok, é um ponto. Mas ainda acho que é algo desnecessário pro “ganho” não tão significativo.

Exemplos de data rate das duas câmeras.

Agora o que não da pra mudar é o fato de que, só pra exemplificar, a BMPCC4K em 24fps BRAW 12:1 4K grava nada menos que 610 minutos em 1TB, o que é excelente! Já a BMPCC6K na mesma configuração BRAW 12:1 24fps, porém em 6K, grava apenas 260 minutos. Claro que 260 minutos é bastante tempo e dá pra seguir “tranquilo”, mas não da pra ignorar o fato de que são 350 minutos menos que a BMPCC4K! Por um ganho não tão significativo de resolução? Sério que alguém considera isso vantagem? Agora pensa se for falar de 8:1, 5:1, 3:1 , Q0 e etc? Essa diferença vai ser ainda mais preocupante.

ATUALIZAÇÃO 10/08/2019 — Um fator importante é que se você pensar em baixar a resolução pra 4K na BMPCC6K pra economizar no tamanho do BRAW, pense de novo! Você não pode gravar em BRAW 4K na BMPCC6K! Que maravilha Blackmagic, excelente! #SóQueNão. Os caras simplesmente não colocar a opção de 4K BRAW, se você quiser gravar em 4K vai ter que usar ProRes obrigatoriamente… Isso porque o 4K nela, devido ao tamanho do sensor, teria um crop maior que o 4K da BMPCC4K e aí eles acharam que você não precisava então de ter o 4K no BRAW. Mancada!

5 — Conclusão:

O fato é que no geral, esse lançamento faria sentido se fosse o contrário. Se tivéssemos a BMPCC6K custando $2.495 dólares e viessem com a BMPCC4K a $1.295 dólares como uma opção mais simples e mais barata. Ficou parecendo que a BMD se deu conta de que colocou o valor da BMPCC4K baixo demais e que agora tá “recuperando o tempo e dinheiro perdido”. Temos agora uma boa câmera com um preço bom e temos uma boa câmera com um preço ótimo, e aí cabe a cada um escolher o que é melhor pra si. Como eu disse antes no artigo, como consultor, jamais indicaria a BMPCC6K num mundo onde a BMPCC4K existe.

Vale lembrar que o número de vendas hoje não é um bom argumento em nenhum discussão, visto que vivemos um momento onde a maioria das pessoas não fazem a menor ideia de suas necessidades nem muito menos de como usar um equipamento, apenas compram por impulso, inveja, ou simplesmente por “ir na onda” e logo, algo que vende muito na real pode ser até um alerta pra “será que é realmente bom e vantajoso?”.

No fim, meu medo maior é que a BMD tenha nos planos “matar” a BMPCC4K rapidamente. Com o hype das vendas ela pode achar que não é necessário mais lançar upgrades de firmware para a BMPCC4K e abandonar a câmera, o que seria um desrespeito com seus clientes. Sinceramente isso eu espero que não aconteça.

A boa notícia é que por enquanto parece que estão dispostos, visto que ouviram seus clientes e finalmente vão entregar um update de firmware para as duas câmeras onde ambas terão modo super16 e anamórfico, algo esperado a muito tempo! Agora é esperar pelo update e não vejo a hora de comprar a minha segunda Pocket Cinema Camera… 4K é claro!

Ou que sabe uma 16K… :D

kkkkkkkkkkkkkkkk

Artigo escrito por André Rodrigues — https://linktr.ee/souandrerodrigues

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