O que está acontecendo com a realidade?

André Rodrigues — Filmmaker
5 min readDec 14, 2021
Cena do filme Mr. Nobody

Faz algum tempo que não escrevo por aqui, mas neste momento senti a necessidade de falar de um pensamento, um sentimento que venho tendo faz um tempo. Talvez eu esteja apenas divagando, mas senti que aqui seria o lugar certo pra falar disso.

O amigo Henrique Rodrigues hoje postou o trailer de um filme novo que vai lançar e mais uma vez eu notei algo que parece uma constante nos últimos tempos…

O que está acontecendo com os filmes? E com a nossa realidade? Parece que de uns tempos pra cá, dezenas se não centenas de filmes possuem uma temática muito parecida. O tal do multiverso. Poderíamos dizer que isso é uma necessidade de falar sobre um assunto que a ciência vem levantando a bastante tempo… Mas o que eu sinto é bem diferente disso.

Pra mim parece que estamos cada vez mais fugindo da realidade. Parece que a grande maioria das pessoas estão sufocando na realidade e que, percebendo isso, grandes corporações, estúdios e etc estão, mais uma vez, se aproveitando de um problema sério para criar produtos e fazer dinheiro. E claro, sem se preocupar no que isso vai causar às pessoas ou ao mundo.

Empresas e mais empresas falando de metaverso, uma forma de fugir da realidade, de ir para um lugar onde tudo possa ser bom, ou pelo menos, deve ser assim. A famosa Matrix… Talvez a gente nunca aprenda com, ou entenda a arte que nós mesmos criamos.

E aí, surgem filmes e mais filmes, séries e mais séries, com a mesma temática, como se quisessem empurrar goela a baixo essa nova realidade de diversas realidades. De uma forma escrachada tentando nos convencer de que esse é o novo normal e quando a gente menos esperar, tudo já vai estar implementado. Afinal, se parar pra pensar bem, as redes sociais já são isso a bastante tempo. Mas o que está por vir pode ser muito pior… Ou melhor…

Engraçado como essa temática é de longe a minha favorita em filmes e séries. Interstellar, Dark, Westworld, Matrix, Mr. Nobody, Inception, Fringe e tantos outros filmes e séries que abordam de forma inteligente e séria esse assunto. Só que existe uma diferença entre esses filmes e séries e os que andam surgindo por aí: Eles são críticas duras e sérias sobre o quão ruim pra sociedade pode ser essa ideia de realidade paralela, seja ela virtual ou real. Já o que vemos nesses novos filmes é uma ideia do tipo: Aceitem que isso existe, vamos viver assim, vai ser melhor, olha quanta coisa boa tem aqui. Olha como é legal! Você pode ser tudo que você quiser!

Mas será mesmo que essas realidades serão tão boas? Ou algo ainda mais importante, será que precisamos mesmo delas? Será que existe mesmo uma razão para estarmos tão cansados e sufocados por nossa realidade atual? Nós realmente temos razão para nos sentir dessa maneira ou essa também foi uma ideia que nos venderam? De que “somos um câncer para o planeta”, que “temos um destino traçado para a extinção”, ou que estamos sendo “explorados e somos apenas serviçais de um pequeno grupo de pessoas”. Será que nós mesmos não nos convencemos dessas ideias e/ou conspirações? Será que não estamos exigentes demais querendo e sonhando com uma vida perfeita, quando na verdade a vida já é perfeita como ela é? Que dores, cansaço, trabalho, esforço, tristeza e etc fazem parte de uma boa vida, que são o que formam exatamente a vida perfeita?

Não meus amigos, eu não faço ideia da resposta correta e nem estou aqui para afirmar nada. Nem mesmo tenho uma opinião formada sobre isso. Eu imagino que talvez o mundo realmente pudesse ser um lugar perfeito, mesmo que virtual, onde nós pudéssemos viver pra sempre, felizes, sem tristezas e etc… Mas, já aprendemos com Matrix que isso poderia tirar o sentido de tudo, tornar tudo vazio e sem propósito, mais do que já aparentemente podemos ser.

Poderíamos viver numa realidade cheia de robôs fazendo tudo e produzindo, onde nós poderíamos apenas ser felizes e viver nossas vidas sem ter que trabalhar nem nada do tipo. Mas além do mesmo risco de perder o propósito, ainda haveria o risco da tal “revolução das máquinas”. A inteligência artificial poderia se tornar muito maior que nós podemos controlar e acabar com toda a espécie. Westworld já nos ensinou isso.

Poderíamos viver dentro dos nossos sonhos como em Inception ou quem sabe descobrir universos paralelos como em Dark, mas quem disse que isso seria tranquilo também? Aliás, eu tenho minhas dúvidas com relação à inteligência artificial, robôs e metaverso, porém quando o assunto é universo paralelos, não tenho dúvidas de que seria algo bem ruim para todos se realmente existisse e fosse descoberto uma maneira de transitar entre. Como em Fringe, o natural seria que um universo quisesse se aproveitar ou se sobrepor ao outro.

O que me deixa triste nessa história toda é ver que a humanidade está realmente dependente e necessitada de fugir da realidade. Isso mostra que o mundo não vai bem. A quantidade de filmes e séries que fazem sucesso vendendo a ideia de realidades alternativas melhores que as nossas é grande porque existe uma carência do público por esse conteúdo, o que comprova exatamente o que venho falando. Triste… Muito triste!

Parece que neste momento estamos em Mr. Nobody, exatamente naquele milésimo de segundo de toda a nossa história no universo, a ponto de uma escolha que vai definir tudo, e que, “enquanto não escolhermos, tudo continua possível”. Nos confortamos com a ideia de que vai ficar tudo bem independente da nossa escolha, afinal, “todos os caminhos são o caminho correto, tudo poderia ser qualquer outra coisa, e teria tanto sentido quanto”.

E aqui neste milésimo de segundo, parados, imaginando, escrevendo e idealizando universos paralelos, realidades alternativas, metaversos e etc, esquecemos de algo muito mais importante que está passando, esquecemos da mensagem principal do Mr. Nobody: “Eu não tenho medo de morrer, eu tenho medo de não ter estado (estar) vivo o suficiente”.

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André Rodrigues — Filmmaker

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